SAUDADE
(Rita Costa)
Vive aqui dentro,
...com gosto de dor antiga
essa palavra que se alonga
infinita e insolúvel,
de uma ponta a outra,
soletrada em todas as horas,
sem jamais pôr-se em descanso.
Como o sol ao fim do dia
faz-se audível ao corpo,
bebendo da irrestrita noite
tantas outras...
com sofreguidão.
Cabe tanto dentro dessa
palavra precursora
de silenciosos poemas....
Nessa palavra viva,
precipitada de sonhos,
amanhece o olharem forma de cantigas
–balé intuído de felicidade
aspirado junto com o ar dos pulmões –,
mas se encarcerada entre dentes
é azul entre o vermelho...
oscilação sentida
que aperta o peito,
amarga a saliva...
úmida saudade ao céu da boca.
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